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Música: Um meio facilitador do processo de aprendizagem


MÚSICA: UM MEIO FACILITADOR DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM
Monografia do curso de Pós-Graduação apresentada à Portal Faculdades como parte dos requisitos para a obtenção do título de especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional.
Orientadora: Prof.ª MSc. Maria Daisi da Fonseca Prietsch
Camaquã
2010
ELISANA DE OLIVEIRA
RESUMO
Este trabalho apresenta o relato de uma Pesquisa Ação Participante e Pesquisa bibliográfica realizadas simultaneamente a fim de compreender o ambiente a ser pesquisado e possibilitar uma melhoria através da ação e participação propostas. A pesquisa propõe a música como meio facilitador do processo ensino aprendizagem, tornando os contextos interdisciplinares mais prazerosos, interessantes e ligados a realidade através da arte musical. Buscou ainda comprovar a importância da presença da música em todos os ambientes sociais, através da descrição da forma como se apresenta a música na história da humanidade, do Brasil e da Educação e fundamentar sua presença como primordial nos ambientes escolares para uma aprendizagem vinculada à realidade e a sociedade. Através desta investigação foi possível perceber a carência musical das escolas e a necessidade de promover encontros e situações onde os docentes possam vivenciar a música para se comprometerem com ela em sua sala de aula. Ao estimular a afetividade, as sensações, a imaginação, a criatividade e a fantasia, a música promove uma intensa atividade mental e consequentemente o desenvolvimento cognitivo e social do indivíduo. Desta forma, muito mais do que um conteúdo ou disciplina curricular, a música é linguagem e forma de expressão de todos os seres humanos e com base nessa constatação, a escola e a educação não podem ignorá-la ou deixá-la aos estudiosos específicos desta área, já que todos somos seres musicais.
PALAVRAS CHAVES: Música, aprendizagem, interdisciplinaridade, linguagem
ABSTRACT
This paper presents an account of a Participant Action Research and bibliographic research carried out simultaneously in order to understand the environment object to be searched and enable their improvement through participation and action proposals. Research proposes the music as a means of facilitating the teaching and learning, developing interdisciplinary contexts more pleasurable, interesting and connected to reality through the art of music. Search also confirm the presence of music in all social environments, through the description of how you present the music in human history, Brazil and the Education and justify its presence as a primary school environments for learning linked to reality and society . Through this participatory action research was possible to perceive the lack of musical schools and the need to promote encounters and situations where teachers can experience the music to commit to her in her classroom. To stimulate affection, feelings, imagination, creativity and fantasy, the music promotes intense mental activity and hence the cognitive and social development of the individual. Thus, more than one discipline or curriculum content, language and music is a form of expression for all human beings and the basis of that finding, the school and education can not ignore it or leave it to scholars in this area to since all beings are all musicals.
KEYWORDS: Music, learning, interdisciplinarity, language
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho ao meu filho Gábrio e meu marido Gildomar pelo amor, carinho e incentivo que me dedicaram e pela compreensão nas minhas ausências.
AGRADECIMENTOS
À Deus, agradeço pelas oportunidades que me coloca e pela força que me dá para que eu possa usufruí-las;
À minha irmã Maitê, agradeço pela parceria, amizade e apoio em todos os momentos;
À minha família, agradeço pelo companheirismo e presença em todas as horas;
À minha orientadora, Prof. Maria Daisi, agradeço pela paciência, compreensão, incentivo e auxílio nas dificuldades;
Aos professores e colegas da Portal Faculdades, agradeço pelos inúmeros momentos de aprendizagens proporcionados.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 10
1JUSTIFICATIVA 12
2METODOLOGIA 14
3 A MÚSICA NA HISTÓRIA DO MUNDO E DO PAÍS 16
3.1 A MÚSICA MEDIEVAL 17
3.2 A MÚSICA RENASCENTISTA 18
3.3 A MÚSICA BARROCA 18
3.4 A MÚSICA CLÁSSICA 19
3.5 A MÚSICA ROMÂNTICA 20
3.6 A MÚSICA MODERNA 20
3.7 A MÚSICA BRASILEIRA 21
4 A MÚSICA NO CONTEXTO SOCIAL ATUAL 23
4.1 MÚSICA E EDUCAÇÃO 24
5 PRÁTICA DA PESQUISA AÇÃO PARTICIPANTE 30
CONCLUSÕES PROVISÓRIAS 42
OBRAS CONSULTADAS 44
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INTRODUÇÃO
A música está presente em todos os ambientes e traz efeitos significativos em tudo que a envolve. Na escola tem um papel fundamental e, como na sociedade, pode estar envolvida em todos os contextos, possibilitando inúmeras situações de aprendizagem enquanto serve como elo interdisciplinar.
Este trabalho vem apresentar uma pesquisa sobre a música como meio facilitador do processo de aprendizagem e se organiza a partir da História sobre a música desde os primórdios dos tempos.
No primeiro capítulo, o da justificativa, apresento os motivos da realização desta proposta de investigação; no segundo, capítulo mostro o caminho percorrido, a opção metodológica escolhida e os objetivos deste estudo.
O terceiro capítulo divide-se em duas partes; A Música na história do Mundo, primeira parte, mostrando a classificação musical conforme os períodos históricos em que se apresenta; caracteriza a música Medieval, a música Renascentista, a Música Barroca, a Música Clássica e concluindo, apresento a música Brasileira trazendo uma visão geral das suas características ao longo da história.
Na segunda parte do primeiro capítulo, apresento a música no contexto social atual, suas características, intencionalidades e seus efeitos na sociedade.
O capítulo quarto apresenta a Música na Educação, sua história e organização ao longo dos tempos, bem como sua importância nos ambientes educacionais.
O quinto capítulo relata de forma breve e sucinta a Prática da Pesquisa Ação Participante realizada com professores em dois ambientes educacionais diferenciados. Um deles, organizado com professores de terceiro e quarto anos do Ensino Fundamental e o outro com professores e monitores de todas as séries iniciais do Ensino Fundamental.
A seguir, conclui-se esta monografia de forma pessoal a partir das análises e observações realizadas ao longo deste estudo.
Espera-se que este trabalho possa servir para educadores, professores,
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pedagogos, psicopedagogos e todos aqueles que acreditam que a música é um meio poderoso e significativo para provocar a motivação pela aprendizagem e a produção de conhecimentos significativos para a vida.
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1 JUSTIFICATIVA
Considerando a presença da música no universo e o envolvimento que ela traz a todas as pessoas é que resolvi eleger este tema como foco para meu estudo monográfico.
A educação musical, hoje orientada pelos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) ainda não ocorre nas escolas como disciplina, apenas faz parte do currículo como um dos conteúdos da área de Artes e mesmo assim, não lhe é atribuído o valor que realmente possui, pois
... São muitos os problemas enfrentados pela área da Educação Musical. Dentre eles, consideramos como os de maior importância a falta de sistematização do ensino de música nas escolas de ensino fundamental e o desconhecimento do valor da educação musical como disciplina integrante do currículo escolar. (LOUREIRO, 2010, p.109).
Considerando estas questões, é necessário que se compreenda a importância do saber musical e principalmente da presença musical em sala de aula, não só como atividade lúdica, mas como parte do currículo escolar de forma significativa. A interdisciplinaridade que se busca em Educação, solicita a presença do canto, da expressão musical e da musicalidade como um todo. Conforme o PCN (1997, p.15), a arte, e principalmente a música, associada ao contexto interdisciplinar ―...amplia a sensibilidade, a percepção, a reflexão, e a imaginação‖.
A música está em todo indivíduo e vem com ele prá escola. Está presente em todos os ambientes sociais. A escola, por sua vez, precisa adquirir a consciência de que o saber não pode estar alienado ao que acontece na sociedade. ―... aprender com sentido e prazer está associado à compreensão mais clara daquilo que é ensinado‖ (1997, p.47), nos diz o PCN de Arte. Assim, o ambiente educativo musicalizado proporciona aproximação do conteúdo a realidade do indivíduo através das músicas que ele ouve. Permite o prazer de aprender pela música. Facilita a compreensão e a assimilação de conceitos de forma agradável e lúdica.
O ensino sistemático da música ainda não ocorre no ambiente escolar devido à falta de profissionais e de organização das instituições, porém o professor de séries iniciais que, sendo responsável por todas as disciplinas, tem a possibilidade concreta da educação interdisciplinar, tem nas mãos uma maneira simples de
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introduzir a prática musical. A Lei nº 11.769, assinada pelo Presidente Luis Inácio LULA da Silva, no dia 18 de agosto de 2008, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) — nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, torna o ensino da música obrigatório, porém, não exige a formação adequada dos profissionais. Desta forma, é necessário que as instituições se organizem para que não caia novamente no esquecimento. Nossa visão da musicalidade interdisciplinar vem garantir a presença da música como meio facilitador do processo ensino-aprendizagem, despertando no educando e no educador o prazer da musicalidade a fim de que busquem o conhecimento tanto musical quanto qualquer outro envolvido no contexto.
O exercício da musicalidade vem promover a socialização e os valores éticos necessários a uma boa convivência. Loureiro (2010, p.14), coloca que ―programas que enfatizam o potencial da música no processo de integração social e de construção da identidade vêm ganhando corpo na sociedade‖ reafirmando a necessidade de um envolvimento musical na escola que além de torná-la mais agradável, possibilita um espaço rico para novas aprendizagens em todas as áreas.
Minhas observações quanto aos efeitos desta pesquisa ação participante na escola referem-se ao desenvolvimento de uma aprendizagem contextualizada e eficaz, além do exercício para elevar a auto-estima e proporcionar um ambiente agradável e de sucesso, valorizando as potencialidades individuais e coletivas, ressignificando a sala de aula, proporcionando situações lúdicas, possibilitando a superação do egocentrismo, desenvolvendo a autonomia e exercitando a expressão artística através da prática musical.
Nestas considerações, observa-se a importância da música na escola, justificando a necessidade de executar este trabalho, que pode ser de grande valia para educadores, psicopedagogos e todos aqueles e aquelas que buscam a melhoria de resultados na aprendizagem e podem ver na música um apoio significativo para a criação de contextos interdisciplinares.
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2 METODOLOGIA
O presente trabalho apresenta resultados de uma pesquisa bibliográfica e uma pesquisa ação participante, organizadas de forma coesa a fim de compreender melhor o objeto de estudo. Este estudo foi realizada no período de Março a Junho de 2010, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, em duas cidade: Arambaré e Camaquã.
A pesquisa ação participante no exercício pedagógico é configurada como ação científica que, nos seus princípios geradores, visualiza a formação e transformação contínua de todos os sujeitos participantes. A caracterização desta pesquisa se deu no questionamento de como posso melhorar minha prática, meu entendimento desta prática e a forma como utilizo estas respostas para melhorar a situação pesquisada.
O termo Pesquisa-ação tem origem na Psicologia Social de Kurt Lewin (1890-1947). Seus estudos buscavam a solução de problemas sociais. Da mesma forma esta pesquisa vem acompanhar uma proposta de aprendizagem interdisciplinar oferecida em dois ambientes escolares diferenciados e vem justificar sua ação no momento em que proporciona subsídios para este tipo de trabalho e orienta os docentes participantes em sua prática.
Esta pesquisa iniciou-se através de observação do meio a ser pesquisado para posterior organização de subsídios para a prática, encontro sistemático com os sujeitos participantes da pesquisa, análise do ambiente posterior aos encontros e consulta bibliográfica. Orientou-se em projeto de pesquisa que levanta a questão: ―Trabalhar conteúdos de forma interdisciplinar, através da música, facilita o processo de aprendizagem?‖
A partir deste questionamento, surgiram hipóteses que direcionaram a pesquisa. A música utilizada em sala de aula, nas suas diversas formas, nas séries iniciais, não seria um caminho de conquistas na aquisição da aprendizagem, na melhoria do relacionamento e da auto-estima? O trabalho com sons e melodias significativas, ajudariam no desenvolvimento cognitivo e social da criança? Num contexto interdisciplinar, a utilização de recursos musicais na busca do resgate do desejo de aprender traria resultados significativos?
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A partir destas hipóteses, objetivou-se pesquisar a Música na história da Humanidade, analisar a música no contexto social atual, enquanto forma de expressão, buscar informações sobre a música aplicada à Educação nas séries iniciais, promover encontro entre professores para troca de subsídios musicais, investigar junto aos professores como é utilizada a música em sala de aula, investigar junto aos alunos como é a receptividade das atividades envolvendo a musicalidade.
Enquanto pesquisadora estive também orientando, facilitando e analisando processos nos níveis psico-afetivos (envolvimento, reações, posicionamentos...), e profissional (interesse, conhecimento, sugestões...), no sentido de uma possibilidade real e concreta de mudança para melhoria de resultados no meio pesquisado.
Num primeiro momento, coordenadores pedagógicos e equipes foram contatados e forneceram relatos sobre as necessidades da realidade a ser pesquisada. Em seguida foram organizadas duas oficinas pedagógicas para professores e profissionais da educação a fim de construir, reconstruir e fornecer subsídios interdisciplinares focando a musicalidade como ponto primordial no trabalho interdisciplinar com séries iniciais.
Na realização destes encontros, houve o exercício musical com o professor preparando-o para a sala de aula. No decorrer de um determinado período realizou-se uma análise qualitativa dos resultados através de relato dos docentes, discentes e equipe pedagógica. Durante o trabalho foi realizada larga pesquisa bibliográfica a fim de sustentar a observação, execução e análise da pesquisa.
Através desta pesquisa ação participante foi possível observar uma transformação da realidade, onde todos os indivíduos puderam praticar o conteúdo pesquisado exercendo uma nova prática através de diversas possibilidades construídas no decorrer da pesquisa enquanto ação, tornando possível a concretização dos saberes apreendidos durante o processo pesquisa-ação.
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3 A MÚSICA NA HISTÓRIA DO MUNDO E DO PAÍS
Essa Arte que domina todos os povos desde os mais remotos tempos e que chamamos de ―Música‖ simplesmente surge no combinar do som e do silêncio. Ela integra nossa vida, sem percebermos o tempo todo, com toda a sua força e essência. Como linguagem Universal de Comunicação tem o poder de sensibilizar em função de uma causa ou de uma intenção de quem a pretende.
A música é influenciada diretamente pela organização sociocultural e econômica local, com as características do clima e a tecnologia de acesso. Ela traduz esteticamente os sentimentos, atitudes e valores culturais de um grupo. Assim, é uma linguagem local e global.
A música faz parte do homem tanto quanto o homem faz parte da música. Já na pré-história encontra-se a presença de resquícios musicais. A arte rupestre dá uma vaga idéia, apresentando figuras que parecem tocar instrumentos, cantar ou dançar. Não é possivel distinguir com precisão a sequência de fatos em relação a música vocal, às batidas com bastões e as percussões corporais. Porém a análise dos desenvolvimentos cognitivos e a manipulação de materiais nos mostra o possível caminho evolutivo da música.
As grandes civilizações deixaram vestígios bastante claros de sua musicalidade. O Egito, que deixou grande herança para as demais civilizações, da mesma forma, alcançou alto grau de expressividade musical. A música Africana já apresentou desde os primórdios suas peculiaridades em complexos padrões rítmicos.
Ainda na Idade Antiga, se pode observar grande diversidade de registros musicais ligados à magia, à saúde, à política, em rituais religiosos, guerras e festas. Após este período, a expansão da musicalidade torna-se indescritível como algo único, sendo necessária uma subdivisão na história da música.
Os Gregos desenvolveram o raciocínio lógico matemático através da música como um dos seus elementos principais (Loureiro, p.35, 2010). Esta compreensão se deve à Pitágoras. Mais tarde Platão dá sua parcela de colaboração. Percebe-se isto, quanto ao que nos coloca Loureiro:
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Segundo o filósofo, a música pode introduzir no espírito do ser humano o sentido de ritmo e harmonia, pois uma pessoa corretamente educada na música, pelo fato de assimilá-la espiritualmente, sente desabrochar dentro de si, desde sua mocidade e numa fase ainda inconsciente do desenvolvimento, uma certeza infalível de satisfação pelo belo e de repugnância pelo feio. (LOUREIRO, 2010, p.35)
Na Idade Média, a Igreja Católica inclui a música nos cultos cristãos, acreditando na sua forte influência sobre os homens. Situou-a ao lado da aritmética, geometria e astronomia como disciplina teórica inserida nos domínios das ciências matemáticas. Neste período surge o Canto Gregoriano que expressa a palavra de Deus, entoados numa só voz, compostos a partir de uma única linha melódica.
Após o Canto Gregoriano, a música composta entre 1750 e 1810, pode ser chamada de clássica. Já a música Barroca, do período que vai até 1750, compreende as composições de Bach ou Vivaldi. Se nos referirmos a Chopin, Verdi ou Wagner, estaremos ouvindo música do período romântico que ocorreu entre 1811 a 1900. Generalizando, podemos chamar de música Erudita. Tem efeitos expressivos sobre o ser humano que ocorrem devido a uma onda sonora que na medida em que se move através do ar, altera a pressão. Assim, relaxam, transmitem paz e tranquilidade, pois diminuem a pulsação cardíaca e respiratória levando o ouvinte a um estado harmônico. A audição de um canto gregoriano ou uma música mais tranquíla leva a um estado de reflexão.
Assim, a música do ocidente pode ser classificada em grandes períodos de acordo com seu estilo.
3.1 MÚSICA MEDIEVAL
O cultivo da música por transmissão oral durou muito tempo, até que foi organizado um sistema de escrita. Por volta do século IX, o monge italiano Guido d’Arezzo (995-1050), sugeriu o uso de uma pauta, surgindo assim o primeiro sistema de escrita musical, usado até hoje no Canto Gregoriano. O mesmo monge utilizou um sistema silábico de dar nome às notas musicais, tendo como base um hino profano que os meninos utilizavam para cantar a São João Batista, para que os protegesse da rouquidão. As linhas posteriores começavam sempre mais agudas que a anterior e a sílaba inicial de cada linha deu origem às notas que conhecemos. O texto em Português dizia: ―Para que nós, servos, com nitidez e língua
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desimpedida, o milagre e a força dos teus feitos elogiemos, tira-nos a grave culpa da língua manchada São João.‖ E em Latim:
Ut queant laxit Ressonare fibris Mira gestorum Famuli tuorum Solvi polluti Labii reatum Sancte Ioannes
Mais tarde houveram algumas reformulações. UT tornou-se Dó e SA tornou-se Si.
Ainda na Idade Média foram produzidas muitas danças e canções. Nos séculos XII e XIII, surgiram trovadores, poetas e músicos no sul da Itália e França. As danças, bastante populares, eram tocadas com instrumentos simples: a viela, parente do violino atual, o alaúde, flautas doces, gaitas de foles, trompete medieval e triângulos, sinos e tambores que faziam a percussão.
3.2 MÚSICA RENASCENTISTA
Na Europa Ocidental, no período da Renascença, sobressaía-se um enorme interesse pela cultura e pelo saber, principalmente às idéias dos antigos romanos e gregos. Grandes avanços ocorriam nas Ciências e na Astronomia. Época de Grandes descobertas e explorações, onde nomes se fizeram: Vasco da Gama, Colombo e Cabral.
Neste período, a música profana despertou o interesse dos compositores. Mas ainda assim as grandes peças renascentistas foram compostas para a igreja (estilo polifônico).
Foi chamado de Policoral o tipo de música onde uma voz da esquerda é respondida pela da direita e vice-versa. Um exemplo forte veio da Basílica de São Marcos em Veneza, que possuía dois órgãos e duas galerias para coro situadas em ambos os lados do edifício. Aí também surgiram os Motetos (peças para quatro vozes, geralmente cantadas nas igrejas e os Madrigais, canções populares que não possuíam refrão, as quais passaram a ser cantadas nas famílias apaixonadas por música, na Inglaterra, no século XVI.
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Só a partir do século XVI, os compositores passaram a interessar-se por escrever canções somente para instrumentos. Os primeiros álbuns instrumentais surgiram no Renascimento. Alguns instrumentos já usados anteriormente continuaram populares e outros foram aperfeiçoados.
3.3 MÚSICA BARROCA
De origem Portuguesa, significando pérola ou jóia de formato irregular, a palavra BARROCO, indica o aparecimento da ópera e do oratório. Este estilo musical, exuberante, possui fortes e suaves sonoridades misturadas a ritmos enérgicos, diversos ornamentos e contrastes de timbres instrumentais.
A música vocal caracterizou-se pela ópera, que é uma peça teatral onde os papéis são cantados e não falados. A mais importante dela foi ORFEU, escrita em 1607, por Montoverdi (1567-1643). O oratório, outro tipo importante de ópera, trazia histórias extraídas da Bíblia. As cantatas eram oratórios em miniaturas, apresentadas nas missas.
No período Barroco, a música instrumental passou a ter a mesma importância da música vocal. No século XVII, a orquestra organizou-se aperfeiçoando os instrumentos de cordas, passando os violinos a serem o centro, acompanhados por outros instrumentos. O cravo era presença constante nas orquestras barrocas.
3.4 MÚSICA CLÁSSICA
A música clássica, apesar da generalização que comumente ocorre, possui sentido especial e expressivo no período entre 1751 e 1810. O termo ―clássico‖ deriva do latim ―classicus‖, que significa cidadão da mais alta classe.
Refinada e elegante, realçava beleza e graça nas melodias. Foram acrescentados mais instrumentos de sopro e deixaram de usar o cravo. Tornou-se mais importante que a música vocal neste período, onde apareceu a Sonata. Obra com diversos movimentos para um ou mais instrumentos. Surgiu também a Sinfonia, uma Sonata para orquestra e o Concerto, uma composição para um instrumento solista contra a orquestra.
O músico neste período era considerado um criado. Tocava ao fundo de jantares e conversas e jantava na cozinha, juntando-se aos demais empregados da
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casa. Precisava seguir tradições, ao contrário, o relegavam. Não podia exercer sua criatividade, somente obedecer às tradições da Corte. Mozart é um exemplo de músico que não aceitou estes limites e morreu como um mendigo. Beethoven já exigiu respeito a seus princípios musicais e com ele nasceu o estilo Romântico.
3.5 MÚSICA ROMÂNTICA
Atingir o equilíbrio entre a formalidade e a expressividade era o objetivo da música romântica. Buscava revelar os pensamentos e sentimentos mais profundos. Muitos compositores deste período liam muito e interessavam-se pelas outras artes, não raro, inspirando-se nelas. Outras inspirações serviram como tema romântico: o passado, os sonhos, a natureza, as tristezas, magia, mistérios e outros. As harmonias tornam-se mais ricas com o acréscimo de dissonâncias.
Atualmente as óperas mais famosas são as românticas, destacando-se no Brasil Antônio Carlos Gomes com O Guarani, Fosca, O Escravo, etc.
Na metade do século XIX, a música deixa de ser dominada pela influência alemã e outros países começam a criar a sua música inspirando-se em lendas folclóricas. Surge aí o Nacionalismo Musical e com ele, as valsas, polonaises, mazurcas, etc. Surge também, para aprimoramento da técnica instrumentista o Étude (estudo), levando a um grande avanço técnico musical. A valsa vienense de Johann Strauss é um típico exemplo da música nacionalista. No Brasil, Villa Lobos é nosso maior representante.
3.6 MÚSICA MODERNA
A música moderna fugiu de tudo que estava tradicionalmente constituído. Novas e diversas tendências, novas técnicas e sons. Alguns críticos chegam a definir a música deste período como ―anti-romântica‖, pois contrariou tudo o que o romantismo trouxe. Entre as diversas misturas e tendências deste período observamos o Impressionismo (Expressionismo), A Música Concreta (Música Eletrônica), a Influência do Jazz (Música Aleatória) e a Atonalidade.
Algumas características identificam a música do século XX. As melodias são mais fragmentadas e curtas e podem ser ainda, inexistentes. O ritmo possui métricas inusitadas. São vigorosos e dinâmicos e podem trocar completamente de um ritmo
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para outro e o Timbre inclui sons exóticos e inteiramente novos, contrastes pesados e até explosivos. A música deste século trouxe novos e inúmeros gêneros. Todos os sons de diversos lugares começaram a se fundir e com o ganho popular das rádios e da tecnologia, a música tornou-se cada vez mais portátil e de fácil acesso a todos.
3.7 MÚSICA BRASILEIRA
Com a diversidade musical do século XX, o Brasil, rico de gêneros, estilos e movimentos, destacou diversos cantores, compositores, maestros e instrumentistas.
O Teatro de Revista, um gênero bastante difundido neste período, consistia num teatro musicado que contava uma história de forma cômica e satírica baseada em acontecimentos reais ocorridos no campo político e cultural. Destacou Chiquinha Gonzaga como a mais importante compositora para este gênero. Foi a primeira a compor especialmente para o Carnaval.
Os negros, recém libertos, divertiam-se nos pagodes e nas festas musicais. O primeiro samba de grande sucesso foi gravado em 1917, quando os sambistas eram malvistos pela sociedade e reprimidos pela polícia.
A música popular, composta por autor conhecido, ao contrário da música folclórica anônima, se difundiu em todas as camadas. Pixinguinha, considerado um dos maiores músicos populares brasileiros, criador de uma centena de choros, foi considerado precursor de uma linguagem orquestral genuinamente brasileira. Destacou-se também Joaquim Maria, José Barbosa da Silva e Ernesto Santos.
O rádio foi o veículo que mudou as condições musicais da época. Em 1935 surgiram os primeiros programas e os primeiros ídolos musicais de projeção Nacional. A conquista do mercado externo ocorreu no pós-guerra tendo Ari Barroso e Carmem Miranda como nomes de ponta. Em contrapartida o Brasil foi invadido por ritmos estrangeiros e alguns ritmos nacionais foram deixados de lado. Luiz Gonzaga, em compensação, foi o primeiro compositor a gravar a música nordestina e conquistar o país com o baião. No mesmo período o samba-canção melancólico e de arranjos sofisticados projetou compositores como Antônio Maria e Dolores Duran. Mais tarde, numa segunda geração de ídolos do rádio surge Emilinha Barbosa, Dalva de Oliveira, Ângela Maria, Caubi Peixoto e outros. A bossa nova, fruto da fusão do samba com o jazz influenciou as gerações seguintes.
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A sigla MPB surge na década de 1960. Os festivais de música revelam nomes que fizeram história e são lembrados até hoje. Em 1967, a música popular que contestava a repressão política deu origem ao Movimento Tropicália. A música, que simplesmente protestava, deu lugar a manifestações bastante hostis, levando os artistas a sofrerem sensura prévia e cortes. Exilado, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Geraldo Vandré e Chico Buarque compuseram músicas fortes que marcaram a história brasileira. Mais tarde Roberto Carlos comanda o movimento Jovem Guarda e traz consigo diversos artistas como Erasmo Carlos, Vanderléia e outros.
Na década de 1980, nomes como Raul Seixas, e Rita Lee destacam-se no pop rock brasileiro. A música americana é trazida por Tim Maia e Jorge Benjor. Neste período, surge uma infinidade de bandas de garagem sem formação musical e com grande diversidade de estilo, construindo assim o pop nacional. Entre elas Titãs, Ultraje a rigor, RPM, Barão Vermelho, liderada por Cazuza, Engenheiros do Hawaí, Legião Urbana, Capital Inicial, Paralamas do Sucesso e diversas outras.
Em 1990, a música brasileira amplia seu leque de possibilidades. A criatividade toma conta do espaço musical. No início da década, ganham destaque os trabalhos que misturam a música pop com o regional, assim como o rap americano ganha uma ―cara‖ brasileira. Na segunda metade do decênio, o pagode carioca, a música sertaneja romântica do interior de São Paulo e o Axé da Bahia, tomam conta dos espaços diversos onde há a possibilidade musical. O funk carioca também foi uma aposta milionária da indústria do disco e ganhou chão trazendo letras que variam entre histórias chulas e filosóficas.
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4 A MÚSICA NO CONTEXTO SOCIAL ATUAL
A música completa seu objetivo no ouvinte. Assim, torna-se um processo indivisível entre o artista e o seu público. A música atrai os indivíduos das mais diversas esferas sociais. Determina efeitos nas relações e faz surgir sentimentos que abrangem o que é interpessoal e intrapessoal. Tem papel relevante em determinados momentos da vida da maioria das pessoas com objetivos diferenciados ou comuns. O ritmo e o andamento musical tem função importante e são capazes de provocar situações de euforia e excitação. Também se observa que a música cria ambientes e atmosferas num evento social, preenchendo lacunas e servindo como fundo acústico. Além disso, serve como facilitadora de atividades, promovendo a aproximação de indivíduos e direcionando a assimilação de significados.
Todo grupo social está imerso num caldo cultural e ali está a música cumprindo seu papel sem apresentar um modelo universal, mas considerando o meio em que surge e as condições em que é construída ou descoberta.
A maioria das músicas atuais tem a finalidade de atingir um determinado grupo social. Em geral, alicerçam-se em mensagens claras, repetições e padrões para se pensar e memorizar. As letras são repletas de clichês, curtas e cheias de rimas, para assim conquistar grandes públicos e levar uma idéia que nem sempre é a ―melhor idéia‖ no que se refere à educação. Mas, independente da intenção, vem como uma linguagem expressiva e reflexiva. É um fenômeno Universal, sem preconceito.
A afetividade humana, muitas vezes menosprezada, é o campo que mais mostra os efeitos da prática musical. A música tem grande relevância biológica, relacionando-se aos circuitos cerebrais responsáveis pelo prazer. O uso da música em hospitais, também é um elemento fundamental para o controle da ansiedade em pacientes. Atualmente a área da Musicoterapia tem reconhecimento acadêmico sólido.
As mulheres mais antigas ainda dizem que os bebês dormem melhor se colocados do lado esquerdo, pois assim ouvem o ritmo das batidas do coração de
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quem o segura, remetendo-o ao que ele ouvia no útero materno. A eficácia das canções de ninar também é inquestionável. As melhores memórias da primeira infância, geralmente são memórias musicais de acalanto e carinho.
Desta forma os efeitos da música sobre os sentimentos humanos e a afetividade, migram da sabedoria popular para o reconhecimento científico. A inquietude das famílias e dos responsáveis pela Educação está na falta de qualidade das músicas ouvidas pelas crianças atualmente. Neste sentido, surge a necessidade da utilização da música do meio social, direcionando-a aos objetivos educacionais. A Escola e a família, não podem ficar alienadas, visto que, é observável que a música cumpre a função que é dada a ela, seja qual for, de forma objetiva, direta e eficaz.
4.1 MÚSICA E EDUCAÇÃO
O conhecimento musical está presente em todas as culturas. Ouvir música, descobrir sons e ritmos e compor canções, desperta, estimula e desenvolve o gosto pela atividade musical e pela aprendizagem como um todo, além de atenderem a necessidade de expressão que passa pela esfera afetiva e cognitiva. Aprender música e coisas ligadas a ela significa integrar experiências que envolvem a vivência, a percepção e a reflexão, encaminhando-as para níveis cada vez mais elaborados. O trabalho com música oferece condições para o desenvolvimento de habilidades, de formulação de hipóteses e de elaboração de conceitos.
―Um universo sonoro nos envolve‖ (2001, p. 79) é o que diz Mendes. Presente em diversas situações cotidianas, utilizada para adormecer, para dançar, para chorar os mortos, para conclamar o povo a lutar, para comemorar alegrias e vitórias e para embalar as tristezas, a música tem o poder de buscar os sentimentos mais íntimos, trabalhando o melhor do ser humano e promovendo seu autoconhecimento. A integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, estéticos, cognitivos e a promoção da interação e comunicação social, conferem caráter significativo à linguagem musical, que, por sua vez, sendo uma das formas mais importantes da expressão humana, justifica por si só sua presença no contexto da Educação, de um modo geral.
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O ―casamento‖ música e educação fazem com que a difícil tarefa do ensinar/aprender, seja gostosa, divertida e eficaz.
Neste sentido, na escola, quando são utilizadas atividades musicais, também é sentido pelo professor prazer e satisfação no trabalho que está realizando e na percepção do crescimento cognitivo e social de seus alunos. Principalmente na inclusão de alunos Portadores de Necessidades Especiais, a música desenvolve a capacidade de expressar sentimentos e captá-los, o que torna o docente mais capaz, mais envolvido e mais próximo da turma toda.
A música não nasceu nas reflexões de um ou de outro pensador importante, nem no estudo de cordas ou lâminas vibratórias. Ela resulta de vivências individuais e de grupos diversos, a partir das especificidades de cada povo. Dessa forma, a música deve ser entendida como conhecimento sociocultural e, especialmente, como arte capaz de reconstruir um ser humano cognitiva, psicológica e socialmente. Tocar um instrumento exige um exercício extremo da audição que acaba desenvolvendo funções acima da média. A motricidade fina também se exercita no treino com instrumentos levando ao controle de muitas outras funções. Assim, o cérebro precisa funcionar em rede, pois a visualização da partitura ou até a audição de outro instrumento sendo executado, ao ser transformada em informação pelo cérebro transmite a ordem ao corpo para executar o movimento necessário, retornando ao ouvido e à visão para a verificação da correção do movimento e do resultado musical. O efeito da música no cérebro assemelha-se ao do esporte para os músculos. Mesmo aquele que não faz música, mas a ouve com freqüência, com atenção e propriedade acaba por exercitar os estímulos cerebrais.
A música atua em ambos os hemisférios do cérebro. O lado esquerdo, mais lógico e seqüencial e o direito mais holístico, intuitivo, criativo. Em música os dois lados são trabalhados. Além de todos estes estímulos, a música ainda tem efeito relaxante e assim, estimula a absorção de informações. As atividades dos neurônios e as sinapses tornam-se mais rápidas, facilitando a concentração e a aprendizagem. Efetivamente a prática musical, seja apreciativa, pelo aprendizado de instrumento ou de outras formas, potencializa o raciocínio lógico, a memória e a aprendizagem como um todo.
A música tem efeito significativo no campo da maturação social da criança. As brincadeiras musicais folclóricas são um caminho para a inserção do indivíduo no grupo e na cultura. Além disso, promovem a maturação individual, pois nas
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brincadeiras de roda, por exemplo, que são bastante usuais, a criança tem oportunidade de vivenciar, situações do cotidiano adulto de forma lúdica, como a dúvida, a afirmação, a perda, a decepção, a escolha etc. Essas situações são experiências vitais que o mais complexo brinquedo eletrônico não proporciona nem evita.
É conhecido que a criança está mais predisposta à música entre os 3 e 10 anos. Assim, nas séries iniciais, a música torna-se poderosa aliada na aprendizagem. A área cerebral responsável pela musicalidade encontra-se muito próxima à área do raciocínio lógico-matemático. A música, sendo um dos recursos mais eficazes para estimular os circuitos cerebrais, acaba por aprimorar habilidades e possibilita o desenvolvimento em todas as áreas do conhecimento. São encontradas, nos textos de Fernandez (1991), referências à necessidade de compreensão e ressignificação da relação do sujeito com o conhecimento e a importância do aprender. Assim, a musicalização vem trazer significação subjetiva a qualquer conceito pretendido para ensinar.
A música está no indivíduo mesmo antes da fala. Gardner (1997, p. 202) coloca que ―são inúmeros os relatos de compositores que cantaram antes de falar ou compuseram na infância inicial‖. A criança de certa forma reproduz o desenvolvimento da música através do tempo. Ela cresce em seu conhecimento musical, descobrindo os sons e ritmos do corpo e da natureza no período sensório-motor. Antes mesmo de explorar conscientemente o meio que a cerca, já mantém um contato casual com os objetos, movimentando-os, batendo-os, sacudindo e extraindo sons. Atitude que repetida várias vezes, acomoda esquemas dos seus movimentos aos objetos e seus sons. ―Cada acomodação origina outras sensações e percepções‖ (Piaget apud Kesselring, 1990, p. 9). Desta forma, a criança começa a coordenar espaço auditivo, visual e tátil, essenciais na aprendizagem e execução musical, promovendo a imagem sensorial resultante da coordenação dos sentidos entre si, o que torna-se mais visível no período pré-operatório.
Mais tarde, a expressão musical integra-se às brincadeiras e jogos: cantam enquanto brincam, acompanham com sons os movimentos de seus carrinhos, dançam e dramatizam situações sonoras diversas, conferindo personalidade e significados simbólicos aos objetos sonoros ou instrumentos musicais e à sua produção musical. A partir dos 3 anos, aproximadamente, os jogos com movimentos sintonizados com a música, são fonte de prazer, alegria e possibilidade efetiva para
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desenvolvimento motor e rítmico, uma vez que o modo de expressão característico dessa faixa etária integra gesto, som e movimento. Aos poucos ocorre um maior domínio com relação à entoação melódica, ainda que, sem um controle preciso de afinação, mas já com retenção de desenhos melódicos e de momentos significativos das canções. A criança memoriza um repertório maior, e conta, consequentemente, com um arquivo de informações referentes a desenhos melódicos e rítmicos que utiliza com freqüência nas canções que inventa. Torna-se nesta fase uma boa improvisadora ―cantando histórias‖, misturando idéias ou trechos dos materiais conhecidos, recriando adaptando etc. É comum que, brincando sozinha, invente longas canções. A criança vai compreendendo os sons e através da aquisição da linguagem começa a expressar verbalmente sua compreensão musical. A imitação do que ouve e vê desenvolve a atenção, a percepção, a memorização, o raciocínio, a linguagem e a expressão corporal. Essas operações mentais que geram o desenvolvimento cognitivo, constituídas através do trabalho prazeroso com música irão provocar o despertar do desejo pela aprendizagem, tão essencial na aquisição do conhecimento.
O Período pré-operatório,‖Nível II‖ (Piaget apud Kesselring, 1990, p. 11), caracterizado pelo egocentrismo e falta das relações lógicas, quantitativas, espaciais e temporais, abre espaço para os vários caminhos que o trabalho com música proporciona, possibilitando uma visualização concreta do desenvolvimento da criança através de suas compreensões e construções musicais. A composição de canções relacionadas ao cotidiano e a execução de instrumentos musicais, são exemplos práticos da aquisição da abstração reflexiva, que faz com que atos representativos tornem-se conteúdo de novos atos intelectuais, proporcionando a elaboração das relações antes inexistentes.
A aprendizagem de canções na fase dos sete anos, período em que a criança, normalmente, ainda não possui um pensamento lógico abstrato, possibilita desenvolver o senso rítmico e o ouvido musical. Sabemos que existem no ser humano, aptidões a espera de desenvolvimento e a educação através da música vem como um caminho a mais no desenvolvimento integral da personalidade. O instinto rítmico já está na criança de forma intrínseca, através da respiração, do caminhar, do correr e saltar. Precisa somente ser liberado e orientado. Assim, a escola e o professor dispostos a realizar este trabalho, poderão despertar a
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expressão espontânea e as potencialidades latentes, musicalizando ainda mais a criança.
No período operatório concreto, ―Nível III‖ (Piaget apud Kesselring, 1990. p. 13), a prática da música escrita através de partituras, faz perceber o salto no desenvolvimento cognitivo do indivíduo que aplica sua compreensão das operações lógicas na escrita musical (verdadeira matemática). Neste nível, ―a criança já pensa e reflete sobre intenções e interesses interpessoais‖ (Piaget apud Kesselring, 1990, p. 14). Já se coloca no lugar do outro sem perder a própria perspectiva. Assim consegue desenvolver o talento musical intencionalmente. Já tem consciência que suas execuções musicais provocarão esta ou aquela reação no outro e em si mesma. Suas sensações, percepções e sentimentos influenciarão diretamente suas composições. A música nesta fase adquire um poder cada vez maior ainda no desenvolvimento cognitivo, ampliando suas funções que além de cognitivas, físicas e perceptivas, são sociais. Após este período, as habilidades musicais é que irão determinar o perfil do artista e a proporção de suas aprendizagens.
A aquisição do pensamento abstrato no ―Nível IV‖ (Piaget apud Kesselring,1990, p. 16), amplia ainda mais a atuação do educador através da música, para facilitar o processo ensino-aprendizagem. A simples audição de uma canção já leva o ser humano guiado pela emoção do som romântico ou frenético a despertar seu ―raciocínio hipotético e dedutivo‖ (Kesselring, 1990, p. 16), característico desta fase.
Piaget salientou inúmeras vezes a influência do meio social na velocidade do desenvolvimento das capacidades cognitivas, que não é automático, mas um exercício ativo. Considerando que as estruturas cognitivas e a autonomia do indivíduo são adquiridas mediante o exercício das mesmas, na música torna-se um caminho apaixonante para o desenvolvimento e para a prática docente em todo seu amplo contexto.
A música perdeu espaço como disciplina nos últimos tempos, em função do despreparo dos educadores e da organização muito abrangente da LDB no que se refere à área de Artes. A Lei nº 11.769, assinada pelo Presidente Luis Inácio LULA da Silva, no dia 18 de agosto de 2008, altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) — nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 , tornando obrigatório o ensino de música no ensino fundamental e médio.
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Atualmente, a música é conteúdo optativo na rede de ensino. O planejamento pedagógico das secretarias estaduais e municipais de educação é que decide se ela fará parte do ensino ou não. Normalmente, aparece de forma vaga no ensino geral de Artes. Porém, sabe-se que um grande número de professores não tem a formação adequada para o ensino formal da música. Então, a Lei citada torna-se questionável. Mesmo que não tenha a música como objetivo final da aprendizagem, o educador a tem como forte aliada, sendo um meio poderoso para facilitar o processo ensino-aprendizagem de outros conteúdos em qualquer disciplina e, principalmente oportunizando o desenvolvimento Psicomotor tão necessário para que a criança conquiste novas habilidades motoras, aprimorando as já existentes. A respeito da educação psicomotora, Stokoe defende que:
O conceito de Educação Psicomotora nos é útil para compreender que não educamos de forma fragmentária (corpo-mente), mas sim tratamos com uma estrutura integrada, e é como estrutura que vemos a criança na Psicomotricidade. (STOKOE, 1987, p.126)
Atividades simples como cantar fazendo gestos, batendo palmas, batendo os pés, dançando e realizando diversos movimentos que são necessários ao desenvolvimento infantil, estará realizando experiências fundamentais no desenvolvimento de fatores imprescindíveis no processo de aquisição da leitura e da escrita.
A necessidade da Inclusão dos Portadores de necessidades Especiais torna-se mais concreta e facilitada através das atividades de musicalização. Nos diversos casos, dos mais comuns aos mais difíceis, a música integra e proporciona algum tipo de aprendizagem, independente da forma como é aplicada, se como disciplina formal ou se como coadjuvante no trabalho interdisciplinar, pois é um meio impressionante de condensar o brinquedo, a diversão e a aprendizagem.
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5 PRÁTICA DA PESQUISA AÇÃO PARTICIPANTE
A realização desta pesquisa se deu em dois ambientes distintos no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. O primeiro, na cidade de Camaquã, com professores de 3º e 4º anos do Ensino Fundamental e o segundo na cidade de Arambaré com toda a rede Municipal de Ensino. As Secretarias Municipais de Educação de ambos os municípios ao receberem a proposta da Oficina Pedagógica empenharam-se imediatamente na realização do encontro demonstrando interesse pelo conteúdo e comprometimento com a pesquisa.
Em Camaquã, a maioria dos professores atua na área da Educação há vários anos. Alguns se mostraram cansados com a dinamicidade das atividades, porém todos participaram intensamente, preocupados em realizar anotações e aprender as canções e todas as atividades que as envolviam.
A oficina pedagógica em Camaquã ocorreu no dia 23 de março, no período da tarde, iniciando às 14 horas até às 17 horas, com intervalo breve de 10 minutos. Participaram quarenta professores de terceiro e quarto ano do Ensino Fundamental mais equipe organizadora, num espaço amplo, bem equipado e organizado. Em Arambaré, ocorreu no dia 30 de março, também durante a tarde. Participaram vinte pessoas com formação diferenciada. Alguns professores de séries iniciais e outros, monitores, além da psicóloga mentora da atividade. O ambiente foi organizado com muita dedicação e cuidado e foi providenciado material para todos os participantes.
A maioria dos professores era jovens iniciantes. Todos, sem exceção participaram com verdadeira motivação, apresentando idéias e situando as atividades em sua realidade. Houve grande descontração e envolvimento com o trabalho. Durante a oficina foram apresentadas atividades interdisciplinares em torno de uma canção atual, da vivência infantil e pré-adolescente. A partir da contextualização de cada música, surgiram diversas discussões e exercícios de conteúdos comuns, além de possibilitarem a compreensão dos valores, da ética, da cidadania, o envolvimento social, afetivo e cognitivo. Sua função fundamental baseou-se no envolvimento do professor que participando, compreendendo e aprovando tornou-se mais comprometido com a pesquisa, unindo-se a ação.
A seguir, descrevem-se alguns exemplos das atividades realizadas.
1. A preá (Música de conhecimento popular)
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Sai, sai, sai ó preá
Sai dessa lagoa (2x)
Põe uma mão na cabeça, outra na cintura
Dá um remelexo no corpo, dá um abraço no outro.
Esta canção é adequada para utilização nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Objetiva a socialização, desinibição, descontração, autocontrole, inclusão social e respeito ao próximo, além de exercitar a percepção rítmica e a coordenação motora. Deverá ser cantada, obedecendo aos gestos de acordo com a letra. Através dela pode-se realizar atividades como abraçar sempre pessoas diferentes, combinar para que quem fique sozinho pague uma prenda, abraçar em grupos de 3, 4 e até 5, etc. Pode-se promover atividades de leitura e escrita, estudo dos animais (partindo do animal que se refere à música), partes do corpo, etc. 2. Sorriso negro (compositor desconhecido)
Um sorriso negro, um abraço negro, traz felicidade negro sem emprego, fica sem sossego negro é a raiz da liberdade negro é uma cor de respeito negro é inspiração negro é silêncio, é luto negro é a solução negro que já foi escravo negro é a voz da verdade negro é destino é amor negro também é saudade. (um sorriso negro !)
―Sorriso Negro‖ é uma música popular bastante conhecida, já gravada por vários artistas. Traz a possibilidade de reflexão e conhecimento sobre os costumes (ritmo e dança afro) e a história dos afro descendentes,. Pode ser utilizada para atividades gramaticais (adjetivos, substantivos,etc.)em diversos momentos na sala de aula, a partir do terceiro ano ou conforme a compreensão da turma. Sugere-se atividades como audição(importantíssimo para o exercício da concentração e compreensão) e canto da música; Ditado musical - escrita de palavras ouvidas (o professor deverá parar a música após a palavra que quiser que seja escrita. Todos escrevem e a música continua. Ao final se faz a correção ortográfica, sempre
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solicitando a ida das crianças ao quadro (selecionando as palavras de acordo com o nível da turma); Pesquisa no dicionário; Selecionar palavras da música para classificação quanto ao nº de sílabas e à sílaba tônica; Redação (Usar como tema expressões da música para frases ou pequenos textos); Localização do continente africano no mapa; Costumes e hábitos da nossa cultura, originários dos afro-descendentes; Características dos ritmos africanos (Dança e Arte); Montar coreografias; Construir instrumentos de percussão com reciclagem , etc.; Propor leituras sobre o tema (O menino marrom , Ziraldo, Melhoramentos, 1990; As tranças de Bintou, Silviane A. Diouf, COSAC E NAIFY EDITOR, 2004; Menina Bonita do Laço de fita, Ana Maria Machado, Ática, 2000), realizar associações com a música, etc.
3. La Bela Polenta
Quando si pianta la bela polenta, la bela polenta si pianta così,
si pianta così, si pianta così. Bela polenta così. Cia cia pum, cia cia pum. Cia cia pum, cia cia pum.
Quando la cresce... Quando fiorisce...
Quando si smissia...
Quando si taia... Quando si mangia... Quando si gusta...
Quando fenisce...
Tradução: A bela polenta quando se planta a bela polenta, a bela polenta se planta assim, se planta assim, se planta assim. bela polenta assim. cia cia pum, cia cia pum. cia cia pum, cia cia pum. quando cresce ...quando floresce
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quando se mescla ... quando se corta ... quando se come ... quando se saboreia... . quando acaba... bela polenta assim. cia cia pum, cia cia pum, cia cia pum, cia cia pum.
Neste contexto são propostos conteúdos diversos como Imigração Italiana (Cultura, costumes, influência no RS, etc...), Memória auditiva, Ritmo, Sequência Lógica de Fatos, entre outros. A canção é mais adequada para 4ºe 5ºano, de acordo com o nível de aprendizagem. Pode-se ouvir a música e pedir que escrevam a sequência de fatos que ela sugere, verificar o sentido de palavras Italianas, integrar a música no trabalho com a história do RS, conversar sobre a importância da imigração Italiana e sua participação na história, questionar parentescos dos alunos com pessoas de origem italiana; pesquisar figuras, histórias orais, documentos, registros, etc., conversar sobre preconceito em relação aos imigrantes, aprender a fazer o ritmo da música para acompanhá-la, utilizando instrumentos de sucata que poderão ser confeccionados pelos alunos, trabalhar com história em quadrinhos, observando a sequência, poderão convidar os descendentes de italianos da comunidade para que ensinem na cozinha como se faz uma polenta, fazer degustação para a turma que pode participar trazendo os ingredientes, verificar valor nutricional, etc.
4. Ai movimenta (Adaptação da música do folclore Gaúcho ―Pezinho‖)
Ai movimenta, ai movimenta o pé direito
O pé esquerdo também vou movimentar. (2x)
Vamos dar uma voltinha
Outra voltinha vamos dar
E para a dança continuar
Eu vou buscar um outro par.
Pode-se utilizar esta atividade para inicialização das crianças menores na dança folclórica Gaúcha. A adaptação da letra torna mais fácil a compreensão dos movimentos. Além do conhecimento folclórico, objetiva socialização, desinibição, descontração, autocontrole, inclusão social e respeito ao próximo, percepção
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rítmica, coordenação motora, lateralidade, entre outros. Pode-se ensinar a coreografia adaptada onde deverão dançar em duplas movimentando pé direito e pé esquerdo conforme a dança folclórica ―pezinho‖. Após, girar com o colega de braço dado para um lado e para o outro. Ao comando de buscar um outro par, todos devem trocar rapidamente de par no intervalo da música.
5. Siriri (autor desconhecido)
Vem cá Siriri!
A moça te chama tu não queres ir
Aproveita o piano mais um ―bocadinho‖
Eu sou o pobre cego e não sei o caminho (2x)
Siriri, Siriri
Pss, pss, pss, pss, pss, pss,…
Quem é?
É o fulano?
O ―Siriri‖ É uma dança regional do Mato Grosso e foi coletada no Sul por velhos informantes de São Francisco de Paula, Rolante, Taquara e Santo Antônio da Patrulha. Nessa região era utilizado num misto de dança e brincadeira. A música do siriri gaúcho foi gravada por Paixão Côrtes em discos ―Philips‖.(Fonte: Danças e Andanças da Tradição Gaúcha – Barbosa Lessa e Paixão Côrtes, 1975). Pode ser usada em todas as turmas dos anos iniciais. Possibilita a socialização ,desinibição, descontração, autocontrole, Inclusão Social (Colocar-se no lugar do Cego) e Respeito ao Próximo, Percepção rítmica, Acuidade Auditiva, Coordenação motora, Lateralidade, valorização do Folclore Gaúcho, etc. Pode-se, além de atividades já sugeridas para outras músicas, realizar a coreografia folclórica (brincadeira): Em círculo, um dos alunos fica no meio com um bastão e olhos vendados. Conforme o círculo canta a música, o aluno ―Siriri‖ canta sozinho a frase ―Eu sou um pobre cego e não sei o caminho‖ e todos repetem. Neste momento param todos e a criança do centro para em frente a um colega do círculo e canta a frase ―Siriri, Siriri, psss...‖. O colega do círculo responde com a mesma frase e os demais perguntam ―Quem é?‖ Assim, o que está de olhos vendados precisa, pelo som da voz, adivinhar quem é. Se acertar aquele passa a ser o ―Siriri‖ e vem para o centro, se não acertar continua no centro sendo o Siriri.
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As histórias musicalizadas também tiveram importante função nas oficinas pedagógicas, pois despertam a atenção e trabalham com a percepção auditiva e a reflexão das crianças. Devem ser contadas dando ênfase na ‖deixa‖ para cantar. As canções são aprendidas no decorrer da história de forma natural e automática. O ambiente deve ser aconchegante e tranqüilo para que possam estar atentos ao enredo. O tom de voz do professor, já estará criando o clima para a audição da história. A história sugerida a seguir, teve criações musicais e adaptações nossas e poderá ser utilizada na Educação Infantil, no 1º e no 2º ano ou conforme o nível de aprendizagem e compreensão da turma. A história bem contada, com a participação dos alunos através das músicas já atinge os objetivos a que se propõe, porém pode-se fazer diversas atividades após o conto. Além de cantar, os alunos podem sonorizar com o corpo ou com qualquer instrumento os sons que aparecem na história, como fatos, vozes de animais, etc.
6. História musicalizada: A Galinha Ruiva (Autor desconhecido)
Um dia uma galinha ruiva encontrou um grão de trigo e pensou: - Vou plantar este trigo, vou cuidar, colher, moer, fazer farinha e então, farei um delicioso bolo.
Mas era muito trabalho para a galinha Ruiva sozinha. Então, ela cantou bem forte para chamar os seus amigos: o cão, o gato, o porco e o peru.
_Quem pode ajudar esta galinha?(4x)
Mas seus amigos, que eram muito preguiçosos, responderam:
_Eu não, eu não, eu não, eu não, eu não!(2x)
A galinha Ruiva, triste e magoada, não se deixou abalar e respondeu cantando:
_Então deixa que eu planto sozinha! (4x)
E foi isso mesmo que ela fez. Logo o trigo começou a brotar e as folhinhas, bem verdinhas, a despontar. O sol brilhou, a chuva caiu e o trigo cresceu e cresceu, até ficar bem alto e maduro. E chegou a hora de colher. Mais uma vez, a Galinha Ruiva pediu ajuda aos seus amigos:
_Quem pode ajudar esta galinha? (4x)
E o cão, o gato, o porquinho e o peru, responderam:
_Eu não, eu não, eu não, eu não, eu não! (2x)
E a galinha, mais uma vez, triste e magoada, não se deixou abalar e respondeu cantando:
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_Então deixa que eu colho sozinha! (4x) E foi isso mesmo que ela fez. Chegando a hora de debulhar o trigo, a galinha, na ilusão que poderia ter a ajuda dos seus amigos, cantou de novo:
_Quem pode ajudar esta galinha? (4x)
E o cão, o gato, o porquinho e o peru, cantaram mais forte ainda:
_Quem pode ajudar esta galinha? (4x)
E a galinha, triste e magoada, mais uma vez por seus amigos, não se deixou abalar e respondeu:
_Então deixa, debulho sozinha! (4x) E foi isso mesmo que ela fez.Mas na hora de levar o trigo ao moinho, a galinha Ruiva quase não podia e pensou que agora talvez seus amigos poderiam ajudar...E cantou novamente:
_Quem pode ajudar esta galinha? (4x)
E os amigos...mais uma vez...
_Eu não, eu não, eu não, eu não, eu não!(2x)
E a Galinha Ruiva, mais uma vez, triste e magoada, não se deixou abalar e respondeu cantando:
_Então deixa que eu levo sozinha! (4x) E foi isso mesmo que ela fez. Quando, mais tarde, voltou com a farinha para fazer o bolo, perguntou:
_Quem pode ajudar esta galinha? (4x)
E os amigos...
_Eu não, eu não, eu não, eu não, eu não! (2x)
E a galinha, mais uma vez, triste e magoada, não se deixou abalar e respondeu cantando:
_Então deixa que eu faço sozinha! (4x) A galinha Ruiva assou o bolo que ficou delicioso. Chamou seus amigos então, e com a maior alegria cantou:
_Quem quer comer o bolo da galinha? (4x)
E os amigos,.também na maior alegria...
_Eu sim, eu sim, eu sim, eu sim, eu sim! (2x)
- Isso é que não! - disse a galinha.
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Vocês não me ajudaram a plantar, não me ajudaram a colher, não me ajudaram a moer e nem mesmo a fazer o bolo! Agora vou comer com meus pintinhos!
E foi isso mesmo que ela fez.
Mas enquanto comia, começou a pensar que não podia ser egoísta, pois também estaria agindo errado. Então chamou seus amigos que estavam tristes e deu-lhes uma lição.
Os amigos prometeram que não seriam mais preguiçosos.
Então todos comeram o bolo e cantaram muito felizes:
Precisamos ajudar os outros, para bons frutos colher
Precisamos ajudar os outros, egoístas não podemos ser
Se te fazem mal, não faça igual
Se te fazem bem, faça o bem também
Se queremos dividir a recompensa, devemos compartilhar o trabalho.
(Obs. As partes sublinhadas são cantadas)
Além do conto e canto da história, ainda pode-se aproveitá-la para inúmeras outras atividades como: desenhar e reescrever a história, caracterizar personagens, organizar sequência de fatos, confeccionar dobraduras dos animais que aparecem na história, classificar os animais(ave, mamífero...), verificar que outros animais não aparecem na história e que outros grupos ocupam, questionar a função de cada animal na natureza, trabalhar a preservação dos animais, as partes da planta, necessidades e cuidados, fazer quebra-cabeça com o desenho dos animais, confeccionar dedoches ou fantoches dos personagens, etc. 7. Vida boa (Victor e Léo) Moro num lugar numa casinha inocente do sertão de fogo baixo aceso no fogão,fogão à lenha ia ia tenho tudo aqui umas vaquinha leiteira,um burro ―bão‖ uma baixada ribeira,um violão e umas ―galinha‖ ia ia tenho no quintal uns pé de fruta e de flor e no meu peito por amor,plantei alguém (plantei alguém) refrão que vida boa ô ô ô
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que vida boa sapo caiu na lagoa,sou eu no caminho do meu sertão vez e outra vou na venda do vilarejo pra comprar sal grosso,cravo e outras coisa que ―fartá‖, ―marvada‖ pinga ia ia pego o meu burrão faço na estrada a poeira levantar qualquer tristeza que for não vai passar do mata-burro ia ia galopando vou depois da curva tem alguém que chamo sempre de meu bem,a me esperar(a me esperar) Esta música já faz parte do repertório infantil por estar na mídia já há algum tempo. As crianças gostam e cantam. Então sugere-se, além das atividades já citadas para outras canções que também podem ser utilizadas com esta, a ortografia musical. Esta proposta possibilita, além do exercício ortográfico e de escrita, o desenvolvimento da percepção auditiva. Coloca-se, inicialmente, a música no aparelho de som e cada aluno tenta copiar no caderno pedaços dos versos, das palavras ou de qualquer coisa ligada à letra da canção. Depois, tenta-se montá-la no quadro. Consequentemente, já nesta primeira atividade acontece o exercício de atenção, concentração e percepção auditiva.Terminada a audição,questiona-se sobre o título da música e seu autor dando a devida importância para estes quesito. Realiza-se então, a segunda audição, já estarão mais atentos ainda que anteriormente. Realiza-se um novo exercício de percepção musical que deverá motivar a turma para cantar e dançar. Nesta parte é feita a organização da música e a correção das palavras que se teve dúvida anteriormente. Quem quiser poderá ir ―consertar‖ os erros no quadro e organizar os versos. Busca-se sempre a participação dos alunos. Tudo corrigido, pelos próprios alunos, começamos o "jogo de associação de idéias". Um aluno escreve no quadro lateral uma palavra do poema e os colegas acrescentam outras de difícil ortografia, fazendo associação de idéias. Um aluno soletra em voz alta e a turma toda faz um coro falado, soletrando cada palavra duas vezes, como exercício de ritmo e fixação. Na primeira vez, o coro falaria bem baixinho e na segunda, mais forte. Encerrando, o coral cantaria novamente com expressão corporal, de costas para o poema escrito na lousa, tentando desenvolver a memória visual. Em uma folha de papel poderiam escrever
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as emoções sentidas e porque essa aula foi importante para sua vida. Esta atividade permite a aprendizagem da concentração, trabalhar em grupo, respeitar a correção do colega, cantar em conjunto sem inibição ou exibicionismo, trabalhar com a ortografia das palavras e com os versos de um poema admirando a criatividade, a sensibilidade do compositor, do interprete, o ritmo, a emoção causada pela música, o poder das palavras, dos versos, e que gramática não é bicho-de-sete-cabeças. Fazer pesquisas e trabalhar em grupo cria motivação e laços afetivos. Pode-se posteriormente comparar zona urbana e rural, identificando características, através da construção de maquetes, poderão desenhar cada parte que mais gostaram e apresentar na frente e, na apresentação, as crianças cantariam a estrofe que o desenho representa, entre outras atividades . As oficinas foram organizadas com vinte músicas e blocos de atividades em cada uma. A maioria das atividades foram vivenciadas pelos professores que realizaram tarefas, construíram modelos de dobraduras, etc. Algumas sugestões não puderam ser vivenciadas pela falta de tempo. Cada participante levou consigo um polígrafo com todo o material. Neste trabalho prático alguns depoimentos ficaram registrados. Por exemplo ―...precisamos de mais encontros como esse!‖; ―...se todas as oficinas fossem dadas dessa maneira, o trabalho do professor ficaria mais rico.‖; ‖...é necessário realizar este trabalho também nas séries finais do ensino fundamental...‖; ―...este trabalho nos motiva a trabalhar com nossos alunos.‖; ―...a forma prática como foram ensinadas as músicas, a explicação e o passo a passo de como fazer com os alunos foi uma forma prazerosa de aprender.‖; ―A música nos faz gostar do trabalho e se envolver com ele.‖ Estes depoimentos e tantos outros semelhantes confirmam que o professor precisa gostar do que faz e ter possibilidades de poder fazer com coisas simples que dêem bons resultados. As oficinas foram encerradas com uma reflexão a partir da música QUE CANTEM LOS NINOS, de José Luís Perales. Tradução adaptada por nós para o canto: Que canten los niños, que alcen la voz, QUE CANTEM AS CRIANÇAS, LEVANTEM A VOZ que hagan al mundo escuchar, E FAÇAM O MUNDO ESCUTAR
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que unan sus voces y lleguen al sol, QUE UNAM SUAS VOZES E CHEGUEM AO SOL en ellos está la verdad. POIS NELAS ESTÁ A VERDADE Que canten los niños que viven en paz, QUE CANTEM AS CRIANÇAS QUE VIVEM EM PAZ y aquellos que sufren dolor. E AQUELES QUE SOFREM DE DOR Que canten por esos que no cantarán, QUE CANTEM POR ESTES QUE NÃO CANTARÃO porque han apagado su voz. PORQUE APAGARAM SUA VOZ Yo canto para que me dejen vivir, EU CANTO PARA QUE ME DEIXEM VIVER yo canto para que sonría mamá, EU CANTO PARA VER A MAMÃE SORRIR yo canto porque cielo sea azul, EU CANTO PARA QUE O CÉU SEJA AZUL y yo para que no me ensucien el mar. EU CANTO PARA QUE NÃO SUJEM O MAR Yo canto para los que no tienen pan, EU CANTO POR AQUELES QUE NÃO TEM PÃO yo canto para que respeten la flor, EU CANTO PARA QUE RESPEITEM A FLOR yo canto porque el mundo sea feliz, EU CANTO PRÁ QUE O MUNDO SEJA FELIZ yo canto para no escuchar el cañón. EU CANTO PRÁ NÃO ESCUTAR O CANHÃO Yo canto para que sea verde el jardín, EU CANTO PRA QUE SEJA VERDE O JARDIM y yo para que no me apaguen el sol E EU PARA QUE NÃO APAGUEM O SOL yo canto por el que no sabe escribir, EU CANTO PELO QUE NÃO SABE ESCREVER
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y yo por el que escribe versos de amor. E EU POR QUEM ESCREVE VERSOS DE AMOR Yo canto para que se escuche mi voz, EU CANTO PARA QUE ESCUTEM MINHA VOZ y yo para haber si les hago pensar, E EU PARA SABER SE OS FAÇO PENSAR yo canto porque quiero un mundo feliz, EU CANTO PORQUE QUERO UM MUNDO FELIZ y yo por si alguien me quiere escuchar. E EU PARA SE ALGUÉM QUIZER ESCUTAR
Após a realização das oficinas foi possível perceber através dos depoimentos a carência de orientação na área musical para os docentes e o quanto o trabalho estava sendo importante e de utilidade. Foi visível a maneira de quanto os docentes apreciaram as oficinas, a maneira como foi conduzida, a situação interdisciplinar proposta e o quanto a presença musical envolveu e tornou prazeroso o trabalho. A questão do movimento associado à musicalidade deu origem a situações propícias ao desenvolvimento psicomotor, pré-requisito nas séries iniciais e que muitas vezes não é alcançado nem pelo professor devido a falta do exercício.
Acompanhando o ambiente objeto da pesquisa ação participante se obteve diversas avaliações positivas dos resultados da pesquisa. Recebemos pedidos do material por e-mail, quando encontrávamos algum participante nos diziam ―...sabe aquela música...usei com meus alunos‖. A maioria dos participantes utilizou os subsídios organizados nas oficinas e passou a realizar suas aulas de forma interdisciplinar utilizando a musicalidade como eixo norteador do seu trabalho a fim de tornar prazerosa a aprendizagem e constantemente, se tem notícias da necessidade de realizar novas oficinas que abordem este tema de forma prática.
O exercício informal da musicalidade também fez com que alguns professores buscassem a teoria musical para aprenderem algum instrumento e aprimorarem seu trabalho com os alunos.
Esta prática possibilitou a compreensão de que a música precisa estar presente nos contextos escolares mesmo que informalmente. Muito mais do que um simples conteúdo, ela é emoção, compreensão, envolvimento e principalmente, aprendizagem.
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CONCLUSÕES PROVISÓRIAS
Este estudo que enfocou a importância da presença da Música na Educação nos trouxe uma reflexão da prática à luz dos referenciais teóricos consultados.
Observou-se que nem sempre os conceitos metodológicos de música em sala de aula podem se fazer presentes enquanto conteúdo e disciplina, mas, ainda assim, sua presença se faz indispensável, enquanto subsídio interdisciplinar que vem permear as demais disciplinas com sua riqueza de possibilidades cognitivas.
Na história da música se observa que no desenvolvimento da humanidade já serviu para registrar acontecimentos e sentimentos dos povos em seus diversos contextos. Mesmo antes da escrita os sons já tinham características específicas para identificar situações. No decorrer da idade Média, a música é elitizada e permitida somente aos abastados, tornando-se organizada e fazendo-nos perceber que por traz destes fatos existem intenções próprias.
No decorrer dos acontecimentos históricos, cada período musical ajusta-se às guerras, aos fatos políticos, às ansiedades do povo e a música torna-se patrimônio de todos, indiscutivelmente, sem que seja possível mais colocar-lhe regras ou limitá-la de qualquer forma que se queira.
Utilizada para todas as situações, passa a ocupar espaço privilegiado entre os jovens que através dela expressam suas revoltas, seus sentimentos mais obscuros, suas intenções perante a sociedade, suas posições políticas e religiosas, partidárias ou neutras. Expressa a cultura, o entendimento, a Educação. A música torna-se a ―cara‖ da humanidade.
Nesse contexto surge a preocupação de compreendê-la melhor e dar-lhe a importância devida. Tamanha importância que se organizam leis e decretos para que ocorra seu ensinamento nos ambientes educacionais. Então, na prática, o questionamento: Não estaria ela, a música, muito além das teorias musicais?
Depois deste estudo, onde diversos autores defendem a aplicabilidade do conteúdo teórico musical, compreendemos sua preocupação e concordamos com esta postura, porém não podemos deixar de pensar na musicalidade enquanto meio interdisciplinar de aprendizagem.
Esta investigação pautada numa pesquisa ação participante comprovou nosso pensamento inicial, que a música pode ter um poder interdisciplinar que na ação pedagógica e junto com as demais disciplinas enriquece o conhecimento
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construído na escola. Devido ao seu leque de estilos ela é linguagem universal; a comunicação pela música não admite fronteiras entre as disciplinas e com isso, atinge todos os povos.
Na Educação, a musicalidade é Português pela sua intenção de comunicar, de compreender, de permitir leituras específicas e de mundo. Torna-se Matemática na sua métrica estrutural, na sua escrita, na sua execução. É Geografia e História ao mostrar nos seus diferentes ritmos, instrumentos, coreografias e características específicas das letras os contextos onde é construída. Traz a Educação Física embutida, permitindo a expressão corporal, o movimento e o exercício. Nas Ciências Biológicas leva o conteúdo nas suas letras e faz o coração bater mais forte quando mexe com os sentimentos, além do ―frio no estômago‖ quando apresenta um ritmo de suspense ou até mesmo aquele que embala uma história de amor. Sem falar na Física quando estuda o som e suas características que associada a música encontra uma riqueza imensa de subsídios de estudo. Nas Artes, se encontra consigo própria e torna-se objeto de estudo. Verdadeira porta interdisciplinar.
Como não aderir aos encantos musicais? Este trabalho veio comprovar nossa prática. A musicalidade abrange e abraça a escola. É necessário apenas permitir que o ambiente escolar também faça parte desta linguagem universal e se comprometa com ela. O prazer pela música fará compreender sua importância tornando-a disciplina fundamental para o crescimento e desenvolvimento humano. Neste sentido, enquanto meio facilitador da aprendizagem já se coloca e se comprova seus efeitos.
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